segunda-feira, 23 de maio de 2011

Tem Tudo a Ver

A poesia
tem tudo a ver
com tua dor e alegrias,
com as cores, as formas, os cheiros,
os sabores e a música
do mundo.

A poesia
tem tudo a ver
com o sorriso da criança,
o diálogo dos namorados,
as lágrimas diante da morte,
os olhos pedindo pão.

A poesia
tem tudo a ver
com a plumagem, o vôo e o canto,
a veloz acrobacia dos peixes,
as cores todas do arco-íris,
o ritmo dos rios e cachoeiras,
o brilho da lua, do sol e das estrelas,
a explosão em verde, em flores e frutos.

A poesia
— é só abrir os olhos e ver —
tem tudo a ver
com tudo.
 
Autor: Elias José

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Ou Isto Ou Aquilo (Cecília Meireles)

Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

O Amor (Fernando Pessoa)

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de *dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Soneto de Fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Vinícius de Moraes

domingo, 15 de maio de 2011

MISTERIOS DO MAR


O mar tem mistérios insondáveis,
esconde segredos incontáveis...
Às suas ondas, segredos confiamos,
muitas vezes nelas depositamos
nossos desejos... nossas oferendas...
queremos com essas prendas,
ver desejos realizados...
O sol, nascendo ou se pondo,
parece as ondas incendiar,
espetáculo para sempre se admirar...
Queremos sempre amar o mar...
devemos seus segredos desvendar,
ou a ele os nossos entregar...
O amor não se perde no mar,
quando estamos a amar,
as ondas não deixarão o amor fugir,
nem sequer se diluir...
Aquela sereia que nos encanta e fascina,
e nosso juízo desatina,
seu canto, meu encanto,
quando ela canta, seduz e encanta...
E nesse encantamento,
saio do meu canto,
e mergulho no tormento
para o onde o mar me levará...
Marcial Salaverry
Publicado no Recanto das Letras em 15/05/2011
Código do texto: T2972004

Link de referência: http://www.recantodasletras.com.br/poesiasdeamor/2972004

terça-feira, 10 de maio de 2011

Amor de Beija-Flor

Quando fugir da prisão
que envolve o teu coração,
procure um Beija Flor
e confesse o seu amor
e faça pro passarinho,
uma prece de saudade.

Pois quem sabe longe do ninho,
aches a felicidade,
mas se ele nem te ligar,
se continuar a voar,
não perca a esperança.
Continue a procurar,
pois quem sabe o passarinho,
fugiu para não chorar.
Fugiu para ter sossego,
pois ele também pode amar
Continue a procurar,
pois quem sabe o passarinho,
fugiu para não chorar.

Fugiu para ter sossego,
pois ele também pode amar.